Sempre gostei de António Botto.
Nascido em Abrantes em 1897 e amigo pessoal de Fernando Pessoa, Botto sempre foi perseguido pelo sua postura abertamente homossexual e que, no contexto da época, era escandolosa, no entanto, foi casado até ao final da sua vida com Carminda Silva Rodrigues ("O casamento convém a todo homem belo e decadente", como escreveu).
A sua obra reflete muito da sua orientação sexual e no seu conjunto é considerado, por muitos como, provavelmente, o autor do mais distinto conjunto de poesia homoerótica de língua portuguesa.
Escreve com o corpo, mais que com a alma, a meu ver. Os sentidos são os seus sentimentos, ou despoletam-nos. Não consigo deixar de não encontrar beleza nisto, mesmo porque acredito nesta pureza. A pureza da Natureza, nua e crua. Sem adquiridos.
Note-se que, curiosamente, ele fala de amor... amor que, para Botto, é desejo. Ama, desejando.
E afinal o que é o amor?... A minha eterna, eterna dúvida.
Gosto especialmente deste poema que partilho.
"Se duvidas que teu corpo
Possa estremecer comigo –
E sentir
O mesmo amplexo carnal,
– desnuda-o inteiramente,
Deixa-o cair nos meus braços,
E não me fales,
Não digas seja o que for,
Porque o silêncio das almas
Dá mais liberdade
às coisas do amor.
Se o que vês no meu olhar
Ainda é pouco
Para te dar a certeza
Deste desejo sentido,
Pede-me a vida,
Leva-me tudo que eu tenha
–Se tanto for necessário
Para ser compreendido."
Quem não sente que, por vezes, não é compreendido? O contexto não é importante.
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