terça-feira, 29 de abril de 2008

"Se Duvidas Que Teu Corpo" (António Botto)



Sempre gostei de António Botto.


Nascido em Abrantes em 1897 e amigo pessoal de Fernando Pessoa, Botto sempre foi perseguido pelo sua postura abertamente homossexual e que, no contexto da época, era escandolosa, no entanto, foi casado até ao final da sua vida com Carminda Silva Rodrigues ("O casamento convém a todo homem belo e decadente", como escreveu).

A sua obra reflete muito da sua orientação sexual e no seu conjunto é considerado, por muitos como, provavelmente, o autor do mais distinto conjunto de poesia homoerótica de língua portuguesa.


Escreve com o corpo, mais que com a alma, a meu ver. Os sentidos são os seus sentimentos, ou despoletam-nos. Não consigo deixar de não encontrar beleza nisto, mesmo porque acredito nesta pureza. A pureza da Natureza, nua e crua. Sem adquiridos.
Note-se que, curiosamente, ele fala de amor... amor que, para Botto, é desejo. Ama, desejando.
E afinal o que é o amor?... A minha eterna, eterna dúvida.

Gosto especialmente deste poema que partilho.



"Se duvidas que teu corpo
Possa estremecer comigo –
E sentir
O mesmo amplexo carnal,
– desnuda-o inteiramente,
Deixa-o cair nos meus braços,
E não me fales,
Não digas seja o que for,
Porque o silêncio das almas
Dá mais liberdade
às coisas do amor.

Se o que vês no meu olhar
Ainda é pouco
Para te dar a certeza
Deste desejo sentido,
Pede-me a vida,
Leva-me tudo que eu tenha
–Se tanto for necessário
Para ser compreendido."

Quem não sente que, por vezes, não é compreendido? O contexto não é importante.


domingo, 20 de abril de 2008

"Adeus" (Eugénio de Andrade) e Um Professor


Lembro este poema com o maior carinho.
Foi numa aula do nosso querido professor de Português (foi também meu encenador no Grupo de Teatro da Escola Secundária!), Luís Gonçalves, que nos acompanhou todo o Secundário, um professor que me marcou para sempre, pelo profissionalismo, pela paixão e entrega, e, acima de tudo, pela humanidade! Uma proposta de ensino em Itália aliada à sua profunda desilusão com o nosso país, fê-lo partir... Não sem deixar a mais profunda marca em muitos alunos!

Eugénio de Andrade foi um dos poetas contemporâneos que fazia parte do programa obrigatório para o Exame Nacional de 12ºano de Português A, no ano lectivo de 2001/2002.

No dia em que lemos este poema na aula, nesse dia especial que me marcou não apenas a mim, foi difícil conter as lágrimas até daqueles que não engraçavam muito com a poesia. É daquelas coisas que nunca hei-de perceber porque é que acontecem... é aquilo a que chamamos MAGIA. Ainda hoje, não consigo ler este poema sem, pelo menos, me arrepiar.

Sempre quis agradecer ao professor Luís Gonçalves pelo enorme contributo que deu na minha vida, por aprofundar a sensibilidade da escrita e da leitura, por me mostrar que não há que ter vergonha de gostar de poesia, a necessidade da liberdade de expressão, o respeito pelo próximo, a luta pela Vida e a aprendizagem com os dissabores... Contributo este que dificilmente conseguirei pôr em palavras. Todas as pessoas deviam ter um professor assim na vida. Já ouviram falar no filme "Clube dos Poetas Mortos"? Nem mais... :)

Aqui fica o poema (mais lindo!) de Eugénio de Andrade para recordar:

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


E apesar de tudo, Eugénio de Andrade é um poeta a quem nunca diremos adeus! Poeta da vida, que escrevendo da forma mais simplista, atinge a complexidade dos mais profundos sentimentos!




Cirque du Soleil (Portugal) - "Quidam"

O Cirque du Soleil está de volta a Portugal, entre 20 de Abril e 25 de Maio 2008, sob o Grand Chapiteau, no Passeio Marítimo de Algés, em Lisboa.

O nome do espectáculo é "Quidam", designação que em Latim significa "transeunte", e promete!

De acordo com o site oficial (www.cirquedusoleil.com), Quidam, o espectáculo que será trazido a Lisboa fala de " (...) um passante anónimo, uma figura solitária na esquina de uma rua, alguém que passa com pressa. Isso poderia acontecer a qualquer um. Alguém que vem, alguém que vai, que vive na sociedade anónima. Alguém na multidão, um dos membros da maioria silenciosa. Aquele que, dentro de todos nós, grita, canta e sonha. É este o "quidam" que o Cirque du Soleil celebra. Uma jovem enfurece-se; ela já viu tudo o que há para ver e seu mundo perdeu todo o significado. A sua raiva despedaça o seu pequeno mundo e ela encontra-se no universo de Quidam. A ela junta-se um companheiro alegre e outro personagem mais misterioso, que vai tentar seduzi-la com o maravilhoso, o inquietante e o aterrador."




O preço dos bilhetes está na baliza dos 20€ e dos 95€. Os estudantes têm acesso ao mesmo preço que as crianças, nos diferentes bilhetes oferecidos. Muito bom! :)

Consultem a tabela de preços e outras informações aqui:

Sendo daqueles espectáculos/ companhias definidos como "a ver pelo menos uma vez na vida", o preço é simbólico! :)

Viva os cartões de crédito, pessoal! ;)
Ainda para os que têm fezada, está a decorrer um concurso, pela SAPO, para ganhar um bilhete triplo para este espectáculo. Força: http://spot.blogs.sapo.pt/10960.html


sábado, 19 de abril de 2008

Tropa de Elite - Pirataria como Marketing


"Tropa de Elite", de José Padilha, foi um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos e que, merecidamente, foi galardoado com o Urso de Ouro, na categoria de "Melhor Filme 2007", o mais alto galardão do Festival de Berlim. (Este prémio, no mundo da Sétima Arte, é considerado o terceiro mais importante do Mundo, ficando atrás apenas do Óscar e do Festival de Cannes. )



Estudos realizados no Brasil estimaram que este filme foi vendido em barraquinhas (camelôs), ao preço da banana, o que levou a que 3 milhões de pessoas o tivessem assistido muito antes da sua estreia, através de cópias ilegais.
No entanto, ao contrário do esperado, foi aspecto que acabou ironicamente por contribuir favoravelmente para a versão do "Tropa de Elite" (porque a versão pirata que correu é diferente) no Cinema, uma vez que, assim que saiu oficialmente nas bilheteiras brasileiras, esgotou em uma hora!

Como sempre, ainda está para ser inventada melhor estratégia de Marketing que o "boca-a-boca"! Sim, porque o lançamento do "Tropa de Elite" primeiro nas ruas do que nos cinemas pode ser considerado um "boca-a-boca"! :)
Há quem diga que o filme, para fins de pirataria, foi uma fuga originada por elementos da equipa do filme para arrecadar maior lucro com as vendas, fugindo aos impostos, e simultaneamente promovendo o filme no cinema; há quem diga que foi "vazado" pela empresa responsável pela subtitulagem, etc. Especulações, especulações!...
Contudo, o próprio realizador não se mostrou muito chateado até porque chegou a argumentar que "o público de filme de DVD pirata é um e o que vai ao cinema assistir ao filme é outro".
OK! Eu sei... Citação ALTAMENTE polémica, mas enfim...

Tudo isto porque o PeOplE k KuRTe :) carinhosamente adoptou o grande funki dá fávelá, "Morro do Dedê", para background das suas noites de pura emoção! eheheh

Grande som! Formigo, põe som na caixa! :D
Pápárráááápá Pápápápá!!!

domingo, 13 de abril de 2008

Babel na União Europeia




Todos sabemos que os custos da "manutenção" da União Europeia não devem ser números de contas de mercearia, no entanto, é sempre, no mínimo, caricato descobrir que um dos maiores preços a pagar seja... a Comunicação!

Dados revelados na VISÃO (edição nº 788), oriundos de Bruxelas, mostram-nos que os 27 países membros gastam um terço do orçamento do Parlamento Europeu na tradução de documentos e na interpretação de discursos nas 23 línguas oficiais!


Em contas por alto, são gastos cerca de


- 300 milhões por ano com tradutores e intérpretes

- 2.080 é o número médio de tradutores por ano

- 2,6 é o número de tradutores por cada eurodeputado

- 1 milhão é aquilo que é gasto por ano em páginas traduzidas


Pois é! Isto da malta se entender sai caro!
É bonito! :)


quinta-feira, 3 de abril de 2008

Aos Olhos de Pascal Baetens e Daniel Bauer























quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sapiente Einstein





A próposito de serões a dar no duro (tipo este!...), em frente a este «bendito» computador, tristemente, o Einstein tem muita razão quando diz que:


"O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário."