domingo, 3 de novembro de 2013

Silêncios bonitos e a minha avó.

Fui-te ver, avozinha.
Desta vez, consegui.

Vi-te, naquela manhã de Outono solarengo, Domingo, de óculos de sol mas à sombra, a respirar o ar fresco da tua Senhora da Saúde.

Sorrisos. Beijinhos. Festinhas. Mimo. Sem som.
A C. leva-te para dentro, para descansares. Convida-me a ir dar-te um beijo antes da folga.
Vou.
Beijo-te e acaricio a pele de menina macia que nunca deixaste de ter.
E sussuro «Amo-te muito», com os olhos molhados, no teu ouvido.

E depois de horas sem proferires palavra, respondes: «Eu também.»
É assim: amar tem silêncios bonitos.


domingo, 27 de janeiro de 2013

Cumplicidade é...

... recebermos uma SMS, inesperada, apenas com uma palavra e rir muito!  :))))

Os melhores amigos são aqueles que despertam o melhor de nós, não há hipótese! :)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Acreditar sempre.

Mais um dia em que continuo a investir em alcançar os meus projetos.
Lista de planos, atualizada diariamente.
Planeia-se, executa-se, risca-se da lista.
T-o-d-o-s os dias.
Acrescentam-se sub-alíneas.
Fazem-se mapas mentais.
Cabeça a pensar.
Sempre a pensar.
Várias formas, outras formas, abordagens alternativas.
Muitas tentativas, escassas respostas.
Algumas pequenas vitórias em milhares de files.
Ainda vitórias de pequenas batalhas, falta ganhar a guerra.
Progressos tão pequenos, mas mais perto hoje do que ontem.
Lutar, sempre.
Acreditar.
O sucesso vem da resiliência e da persistência.
E da calma.
E do foco.
E da fé.



terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O silêncio é o melhor termómetro

Quando alguém fala de nós por raiva: fala muito, pouco se aproveita. A maior parte é resultado de dor.
Quando alguém fala de nós por paixão: fala ainda mais, torna-se insuportável, um enjoo. A maior parte é resultado de tolice (da boa!).
Quando mais para a frente, tudo termina, e quando, ocasionalmente alguém toca no teu nome, se dá apenas silêncio, sabes que é amor. A maior parte está a ser vivida por dentro. E isso só acontece com coisas grandes. Com coisas nossas que queremos preservar do mundo.

Só o amor é real (ou mais uma declaração de amor a ela)


Comecei 2012 triste.
(Sim, 2012, não falo ainda de 2013, fica para depois.)

Foi identificado o segundo cancro na mulher que me criou, na minha avó, aos 79 anos, desta vez, nos intestinos, ainda em Dezembro de 2012 e foi como se me passasse 30 camiões de TIR em cima, devagarinho, partindo cada osso. Tenho os 4 meses mais difíceis de que me lembro nos últimos anos (Dezembro a Março) e apercebo-me, na verdadeira acepção da palavra, de que a vida quando resolve mexer nas pessoas que amamos faz-nos questionar tudo. Tudo se torna absolutamente irrelevante ao pé disso. Resolvo marcar uma viagem, em Março, para passar o meu aniversário fora, tentar recuperar-me em 15 dias, após sugestão de alguém que me era próximo e que me queria "de volta". Após 7 dias de lá estar, recebo a notícia de que ela entrou para o hospital, para ser operada de urgência, após uma hemorragia grave. Vou, no mesmo minuto, ao aeroporto tentar antecipar a data de regresso. Não consigo. Compro um novo bilhete (neste momento, também o dinheiro não é importante. Venderia um rim para ter aquele bilhete, se fosse preciso) e regresso passado 2 dias. Aterro em Faro e peço ao taxista que me deixe diretamente no hospital, ainda de malas. Chego ao hospital e fico 1 hora à entrada, a andar de um lado para o outro, freneticamente, sozinha, a chorar. A chorar muito, para que deixe na rua o meu medo e que só leve o meu sorriso lá cima. Vou comprar um ramo de geriberas, colorido, que a florista mo prepara com toda atenção, pondo um cartão que diz "Que o meu amor te encha os dias" (sem saber para o que era, acertou em cheio). Vou ao guichet e dou o nome da minha avó. Subo e vejo-a. Pequena. E com um olhar vazio, sem falar, que me rebentou por dentro. Não conseguia falar também, mas sorri, e dei-lhe beijinhos. Ela sorriu de volta. Ainda hoje não sei se naquele dia me reconheceu. Chega a enfermeira, que devia ser da minha idade, que me chama a parte e me diz que a demência agravou-se com a operação e que notaria consideráveis diferenças daqui para a frente.

Hoje, a minha avó (ainda) sabe sempre o meu nome quando vou ter com ela. Sempre que vou, temo que seja dessa vez que ela já não saiba. Até hoje não aconteceu comigo, mas já aconteceu com outros netos e outras pessoas da família. Mas a minha avó sabe quem eu sou e, ainda que converse comigo, muito, sobre coisas que nós achamos sem sentido, ela ainda sabe o meu nome e sorri quando me vê. E isso para mim é uma grande prova de amor. Nunca pensei que o facto da minha avó se lembrar do meu nome me fizesse tão feliz.

Hoje, passado um ano, a minha avó está num estado avançado da demência. Comunica, mas as conversas já não são de acontecimentos reais, são estórias que ela continua a contar com o mesmo gosto, paciência e entusiasmo de menina, que sempre teve, como se tudo fosse uma estória de encantar. Mantém aqueles tiques de conversa que todos temos, mas os dela: esfrega as mãos, passa o indicador e o polegar na cana do nariz, levanta as sobrancelhas e diz "bem!", traços esses que me lembram dela, da minha avó antes da doença.

Passado um ano, olho para trás e vejo como isto mudou a minha forma de ver o mundo. Vejo que a minha avó, mesmo sem saber, deu-me, mais uma vez, das lições mais bonitas de vida pelo exemplo, pela luta, por se lembrar ainda do meu nome: só o amor é real.

E isto inevitavelmente mudou-me para sempre.
E inevitavelmente, também, mudou o meu caminho.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O Ponto Cego



Ponto cego



Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Um ponto cego, também conhecido como escotoma, é uma obscuração do campo visual. Um ponto cego em particular conhecido como ponto cego fisiológico ou punctum caecum na literatura médica é o lugar no campo visual que corresponde à falta de células fotorreceptoras no disco óptico da retina onde passa o nervo óptico. Uma vez que não existem células para detectar a luz nessa região do disco óptico, uma parte da campo de visão não é percebido. O cérebro preenche esse ponto com informações sobre imagens ao redor e com informações percebidas pelo outroolho, dessa forma o ponto cego normalmente não é percebido.



Tal como o nosso cérebro, temos esta necessidade de preencher os “pontos cegos” da nossa história, aqueles pontos que não entendemos no Presente, que não nos foram explicados, e que lá faltam, por isso, inquietantemente, bocados. Assim o fazemos, para conseguirmos arrumar e seguir para o próximo troço. Assim sou eu, pelo menos.  E acredito que assim seja a natureza humana. Porque no fundo todos gostaríamos sempre de saber o que é que o outro pensa. Saber aquelas coisas que só falamos
connosco, cá dentro. As verdadeiras razões. As verdadeiras dúvidas. As verdadeiras emoções. Mas é nestas alturas que comunicar com o outro dói, acho. Custa, como se se fosse anunciar o fim das tintas no Mundo ao melhor pintor. Ou o fim dos espinafres ao Popeye. Ou o fim da estrada de tijolos amarelos ao Homem de Lata. Ou seja, o fim de coisas bonitas e que nos dão força, que tornam os dias mais bonitos, que NOS tornam mais bonitos. Simplesmente dói e empurramos com a barriga, para que o Tempo resolva. À falta de melhor, esse sabe sempre o que fazer, nem que seja só acontecer, passar, ser. Entrega-se o assunto e pronto, espera-se. Como quem põe uma mensagem numa garrafa ao mar, sem saber se alguém a vai ler, mas que fica com a certeza de que tentou tudo o que podia…


domingo, 30 de setembro de 2012

Gostava de saber porquê.

Chorar.

À minha volta dizem:
- Não gosto de chorar. Chorar dói-me na alma.
- Preciso de chorar. Chorar limpa-me.
- Se não chorar nos próximos momentos, morro.
- Irrita-me quando, a meio de uma discussão, começo a chorar.
- Quero chorar isto para me libertar.

Nos últimos tempos, sempre que me deito, choro.
Não estou triste nem nada que se pareça, mas choro uma ou outra lágrima.
Acabo até por sorrir.
Gostava de saber porquê.